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A França obrigada a mudar

Somos gatos escaldados e há razões fundadas para termos medo de no domingo apanhar outro balde de água fria, mesmo que esse seja o cenário menos provável. Desde logo porque as presidenciais francesas são muito mais determinantes para o futuro colectivo da Europa e da Zona Euro do que o Brexit ou a eleição de Donald Trump.

A União Europeia pode conviver, mesmo que mal, com o novo Presidente dos EUA e viver sem o Reino Unido – não existe sem o eixo franco-alemão. Mesmo que entre o desejo do "Frexit" e a sua concretização exista uma montanha constitucional difícil de transpor, enfrentar os desafios da imigração ou do crescimento económico tornar-se-ia um Mar das Tormentas com interlocutores como Le Pen e Mélenchon, porta-estandartes do nacionalismo e do proteccionismo.

Esse não é, no entanto, o cenário-base assumido nas sondagens, o mais citado pelos analistas, aquele em que os bancos de investimento estão a investir mais dinheiro. Mesmo nos inquéritos de opinião admitindo a possibilidade de os quatro candidatos mais bem colocados passarem à segunda volta, as fichas estão postas na dupla Marine Le Pen e Emmanuel Macron, com o candidato da direita François Fillon a ficar pelo caminho. Mais seguro parece ser o prognóstico para o segundo acto eleitoral: Macron vence, com maior ou menor margem, contra qualquer um deles. Se assim for, a votação deste domingo é mais crucial do que a que terá lugar duas semanas depois.


Tal como no Reino Unido ou nos EUA esta eleiçãomostra uma sociedade fracturada e o vencedor herda uma França ainda mais dividida. A julgar pelas sondagens, cerca de metade do eleitorado diz votar numa solução extremista, de esquerda ou direita, e apoia uma visão eurocéptica.


Há um anseio de mudança. Servir essa mudança exige reformas que devolvam a competitividade e o dinamismo económico a França. Macron, por exemplo, defende alterações na legislação laboral, diminuição de impostos para as empresas, cortes nas despesas do Estado e um plano de investimentos. Levá-las a cabo obriga a unir os franceses em volta delas. Tarefa difícil, se pensarmos que Macron, Fillon ou Mélenchon não serão eleitos por votantes convictos no seu projecto, mas por franceses que não querem Le Pen a liderar os destinos de França. Depois há o Parlamento. Em Junho, será eleita uma nova assembleia-geral, em que dificilmente qualquer candidato conseguirá um apoio maioritário.

França tem de mudar e esta pode ser a última oportunidade para o fazer. Se qualquer um dos candidatos deixar o país com o mesmo crescimento medíocre e a mesma taxa de desemprego de 23% entre os jovens, como François Hollande, estará a estender uma passadeira vermelha para Marine Le Pen ou outro extremista chegar ao Eliseu.

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