A vacina não chega, não é suficiente, não controla a pandemia, e o desastre irlandês é um caso exemplar dessa incapacidade, que está a alastrar-se a todos os países europeus. A Irlanda, com 5 milhões de habitantes, quase 80% de vacinados, e a terceira dose a avançar rapidamente, regista 864 casos por um milhão de habitantes, quando o Reino Unido está nos 598, e Portugal em 194 (World Data Covid). Nem sequer é necessário falar da Áustria, ou da Alemanha.
O caso irlandês está a ser dado como um indicador da fiabilidade de dois recentes estudos publicados no «New England Journal of Medicine», com testes em condições reais, em Israel e no Qatar – onde as taxas de vacinação cobrem toda a população elegível – que confirmam o que já se percebia nos meios científicos: a imunidade das vacinas completas da Pfizer e da Moderna, e outras, começa a cair a partir dos 2 meses, a nível de anticorpos, em particular nos dois polos etários: os mais velhos, e os mais novos.
A boa notícia, que também já se sabia, e que agora está confirmada, é que a imunidade celular, particularmente os linfócitos (T cells) se mantém a níveis elevados durante mais tempo, o que tem tido como resultado que os vacinados, genericamente, podem ser contagiados, e são, mas reagem melhor às fases mais graves da Covid. Esta situação gera, contudo, um grande problema: estando vacinados sentem-se mais tranquilos, quebram os protocolos de segurança e de distanciamento, e o resultado é transmitirem o vírus a vacinados mais frágeis.
A vacina ajuda, mas não resolve. Tem de ser acompanhada de restrições. Em teste real, os países totalmente vacinados, ou com elevadíssimas taxas, que acabaram com todas as restrições, como foi o caso da Europa, incluindo Portugal, estão agora afundados na 5ª vaga. Uns a impor confinamento geral, e outros, ainda, a tentar resolver com o uso da máscara obrigatória, o teletrabalho, e a terceira dose universal. Isto não está resolvido. Nem vale muito a pena inventar, atrasar, e fingir: só haverá descanso, presume-se, quando chegarem as vacinas de segunda geração, medicamentos de elevada eficácia, que ainda não são, e eventualmente ter de manter faixas da população com regras obrigatórias de proteção e de distância.
Nota sobre o tempo perdido: a reunião do Infarmed foi na sexta, apenas confirmou o que já se sabia, e só na próxima quinta-feira é que o Conselho de Ministros vai anunciar as novas medidas restritivas. Se estavam a pensar ter um Natal seguro, e tranquilo, risquem da agenda. O Governo está a andar devagarinho, e a oposição sem grandes pressas, nem pressões.
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